Junta de Freguesia de Pousa Junta de Freguesia de Pousa

Igreja Paroquial

Devido à falta de registos, não é possível datar quando é que a freguesia de S. Cristina da Pousa, então sem a Reguela, começou a ter a sua paroquial.

 A tradição oral indica que seria uma pequena ermida em frente da fonte do lugar do Outeiro na Bouça na qual existia um Cruzeirinho que os mais antigos reconheceram e recordam com saudades.

A igreja anterior à actual ficava dentro do espaço da actual virada ao contrário desta, como mandava a liturgia, sendo a porta principal mais ao menos no sítio da Tribuna e altar mor de agora, metro e meio acima do nível do Cemitério.

 A porta principal da Igreja ficava em frente da do Cemitério da qual se descia por umas escadas de pedra fazendo arco.

Tinha campanário igual ao da Capela da Senhora da Esperança e uma sacristia. Desta igreja diz T. Fonseca em Barcelos Áquem e Além Cavado na p. 310:

“A matriz de Santa Cristina do Ulgoso, situada no mesmo sítio onde hoje está a actual, era pequeníssima, sofrendo obras de reforma e ampliação há cerca de cem anos. Não obstante estas, ficou assim um templo exíguo paras necessidades do culto.

A fachada singela, amparada do lado direito por um velho torreão com um único sino, e enfim todo o conjunto, na sua arquitectura simples, nada tem que nos enleve.

O seu interior rescende, porém, a asseio e lim­peza, o que mostra bem o zêlo do seu pároco e a devoção dos fregueses».

Quando esta obra foi escrita era abade o sr. Padre Joaquim Firmino Gomes.

No ano de 1912-1914 foi enriquecida com o au­mento da sacristia, reparação dos altares e adqui­rida a nova Pia do Baptismo a qual passou para a nova igreja e tem esta inscrição: «Offerecida pela Família Leal». Foi inaugurada no dia de S. Pedro e o primeiro baptizado foi o de Maria da Deveza. A antiga Pia foi parar a casa do agricultor António Martins da Silva.

Na Torre foi colocado outro sino, ficando o torreão em tudo igual ao da Capela e não se sabe qual o que serviu de modelo ou o mais antigo.

Pelo Tombo de 1548 sabe-se que a igreja de S. Cristina de Algozo já era no mesmo sítio de agora e que estava rodeada a sul pela Residên­cia Paroquial e por cobertos que ocupavam o lugar do Salão Paroquial. Estes começaram a ser destruídos para o aumento da sacristia da igreja velha, acabando totalmente quan­do se iniciaram as obras do Salão em 1950. Ocupa­vam uma grande área e davam a entender terem sido casa de caseiros das terras do Passal.

Há 150 anos a igreja velha foi ampliada e a nível de curiosidade convém referir que também foi uma senhora que pagou as despesas.

Em 1936 foi derrubada para dar lugar ao mo­numento que é a igreja de Pousa. Esta ocupou, por ser grande, parte do Adro.                            

A seguir serão apresentados excertos da história da construção da actual Igreja Paroquial, feita pelo P. Hélio Gomes Ribeiro no livro  “Pousa S. Cristina – Reguela S. Salvador”.

 

“Sonho ou realidade?

Sonho:

Aqueles que no Verão se deslocavam até à Pó­voa de Varzim para retemperarem as forças gas­tas por tantos trabalhos e lavores ou como ro­meiros das grandes festas das Dores ou da Senhora da Assunção, ficavam admirados com a igreja que estava a ser construída em Amorim, junto à es­trada e cuja conclusão estava para breve.

E se na Pousa se fizesse uma igual, dizia o Sr. Abade P. Joaquim Firmino Gomes! Seria como na cidade e até teria bancos e toda a gente caberia e teria melhores condições.

E este sonho repetido em voz alta ganhou eco nos corações dos seus queridos paroquianos.

Alguns amigos dizem: a nova Igreja será uma realidade e fazem uma Comissão dispostos a não parar.

São eles:

Manuel José de Araújo, da casa das Poldras, meu avô e padrinho; José Fernandes Loureiro da Costa, da Casa Seara e pai do Sr. P. José Carlos da Costa Seara, pároco querido de Arcozelo, Bar­celos; António Luiz de Magalhães, do lugar da Ca­pela e pai do Sr. Dr. Domingos Soares de Maga­lhães.”

 

“As ofertas da freguesia são pequenas, a maior parte vive o pão-nosso de cada dia, a Casa Leal, a Sr.ª D. Joaquina e Maria Teresa Lopes Leal, prometem dar tanto como a freguesia toda, o que afinal, é tão pouco.

Mas com o Sr. P. Firmino, o bondoso Sr. abade, e com colaboradores de tanta fé e esperança, a Pousa, terá uma igreja à grandeza cujo futuro já se adivinha mais honroso e feliz.

Em 1934 foi entregue a obra ao sr. José Pe­reira, de Barcelinhos.

Os alicerces são abertos, a pedra começa a ser cortada nas pedreiras do Penedo, na Crujeira, na Bouça Velha e na das Poldras.

É transportada por possantes bois dos carre­teiros da freguesia. Parece que ainda os estou a ver com essas grandes pedras, algumas autênticos penedos como a do Púlpito.

As paredes e a frente da igreja vão subindo lentamente.

Duma prancha do lado da residência cai um operário que morre.

O mestre começa a ver que não pode continuar as obras. Pensava que os alicerces seriam poucos, o terreno parecia ser rochoso e infelizmente o terreno deu em ser mole e a frente da igreja com a Torre ao centro obrigara-o a despesas fabulosas. Faz novo contrato, dispensam-no dos caixilhos das janelas, uns 30 contos, mas pouco depois viu que era pouco. Com a morte do seu artista ficou des­moralizado e manda alguns trabalhadores embora. Não foi medida acertada, pois a freguesia precisava da igreja e assim mais tempo levava, há discussão ajudada pelos que ficaram sem trabalho, alguém teve a má lembrança de dizer que ia mandar vir a Guarda de Barcelos e então foi o fim do mundo. Os sinos da igreja, nesta ocasião estavam numas estacas junto da entrada ao lado direito da Resi­dência Paroquial, começam a tocar a rebate junta­mente com os da Capela e durante duas horas o seu som fez acorrer toda a gente da freguesia e das outras Terras. Muitas mulheres vinham com cântaros pensando ser fogo, mas alguns homens já traziam paus e espingardas.            

A Guarda quando chegou e viu este espectáculo, foi prudente, afastou-se delicadamente evitan­do um tumulto horrendo pois as multidões não raciocinam.

Devia ter sofrido imenso o Sr. abade já doente e na cama ao ouvir todo este barulho.

Desde o princípio das obras da igreja tinham a pouco e pouco falecido todos aqueles que a co­meçaram. Só a Sr.ª Joaquina Lopes Leal ficou para pagar as obras. O seu dinheiro e da sua irmã foi o primeiro a ser gasto e quando estava pelos 20.000$00 o Sr. Paulino de Araújo Martins com o seu amor à igreja e com educação conseguiu a promessa da Sr.ª Joaquina de pagar todas as despesas.

O Sr. Paulino corre a dar a boa nova ao Sr. abade que chora de alegria nesse abraço amigo para bem da Igreja que seria muito bela, mas que ele veria da Igreja Triunfante onde em breve se reu­niria a quantos a ela se consagraram de alma e coração.

As obras param uns 15 dias.

Com o novo empreiteiro, João de Deus Gonçalves Morgado, de S. Julião de Paços, a quem é dada plena liberdade, os trabalhos tomam grandes proporções a caminho da fase final.

O primeiro mestre, por falta de diálogo das duas partes, propõe questão tendo como advogado o célebre Dr. Joaquim Gualberto de Sá Carneiro e por parte da Fabriqueira da Igreja o Sr. Dr. Por­fírio da Silva que vence a contenda. Parte das au­diências foram feitas no Adro no meio das pedras. Esta demanda acabou, já era pároco da fre­guesia, o Sr. P. José Loureiro.

O Sr. P. Joaquim Firmino Gomes morre no dia 11-10-1937 e a freguesia é anexa a Martim tendo como pároco o rev. P. José Peixoto.

Dá-se a entrada do Sr. P. José Loureiro no dia 16-3-1938 o qual foi recebido de braços abertos, por todos os habitantes da Pousa.

Deus envia um fiel continuador para dar o grande remate desta coroa de glória de dois aba­des da Pousa, Sr. P. Firmino e o Sr. P. Loureiro.

Jovem ainda, o novo Sr. abade, coloca-se à fren­te de todos os paroquianos para os últimos aca­bamentos.

Todos, pobres e remediados com os seus ga­dos fazem cada dia a sua romaria para junto da querida igreja e pelo trabalho duro dizerem às gerações futuras que a verdadeira felicidade a encontrariam ali. Dentre todos havia alguém sem­pre presente com a enchada na mão dignificando e animando ao trabalho, sabem quem era? A gente da Pousa, mesmo a mais nova, adivinha pois até andava vestido um pouco diferente com o seu traje preto; era o Sr. Abade, mas Abade mesmo com letra grande, o Sr. P. José Loureiro.

Entretanto já se pensa na inauguração e o desejado dia é anunciado, será a 17-9-1939.

Houve uma semana de pregações feitas pelo Sr. P. Manuel de Abreu Carneiro e no Sábado dia 16, o Sr. Arcipreste de Barcelos benze a Nova Igreja tomando como tema para o Sermão: a história de Zaqueu:

«Se Zaqueu foi feliz e entrou em sua casa a salvação por acolher o Mestre uma noite, quanto mais seriam abençoados os habitantes da Pousa, pois lhe fizeram uma Casa para sempre tão for­mosa e tão elegante».

No dia 17, Domingo, o Sr. Arcebispo Primaz, D. António Bento Martins Júnior só sabe dizer que linda igreja vocês têm, como é grande, que encan­to... e perde-se em admiração.

Foram centenas de pessoas, crianças e adultos sobretudo desta freguesia e de S. Romão da Ucha ao Sacramento de Crisma, acabando as cerimónias já ao anoitecer.

A Pousa está toda em festa, bandeiras e arcos com cordas das mais vistosas nunca ninguém viu, nunca verá outra vez.

Músicas e um lindo arraial onde estouram os foguetes, como na cidade de Barcelos nas Cruzes, ou em Braga no S. João.

Obra começada com amor, obra para o Espí­rito, também deu de comer a muitos operários da Terra e de longe, aqui ganhando o sustento para si e seus filhos.

Isto se escreve para honra de todos; sem gran­de barulho, souberam fazer todo este Monumento.

Na humildade e simplicidade de sua vida so­bressai a Grande Benfeitora D. Ana Joaquina Lopes Leal, remate glorioso de sua família a quem a Pousa tudo deve e que em outro lugar se fará referência.

Esta igreja serviu de modelo para a de Ave­leda, Braga.”



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